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Semântica Argumentativa

  Saindo do âmbito da palavra, vamos caminhando em busca dos processos de significação calcados na frase, nos diálogos, no texto. São estratégias argumentativas decorrentes do trabalho refletido sobre a linguagem. Constantemente utilizadas, mas são pouco trabalhadas em salas de aula de ensino de língua materna e estrangeira, algumas dessas estratégias argumentativas seriam: as ambiguidade, as paráfrases, as metáforas e metonímias, os pressupostos e subentendidos, além de outras.

 

  As ‘figuras de linguagem’ são reconhecidas como recursos pouco convencionais que os escritores ou falantes utilizam para promover mais expressividade à mensagem. Esse conceito de ‘figura de linguagem’ advém da concepção de que a linguagem nomeia a realidade, possuindo com esta uma relação referencial, portanto. Haveria entre pensamento e linguagem uma relação de utilidade, a linguagem expressaria o pensamento. Ou seja, o pensamento estaria separado da linguagem. Os usos fortuitos da linguagem figurada romperiam com essa relação puramente referencial, provocando alegorias às expressões comunicativas.

 

  A partir de Saussure, com o advento da Linguística Moderna, como vimos nos capítulos anteriores, já não se concebe o pensamento separado da linguagem. Para Saussure (1972) tanto o significante quanto o significado são de natureza psíquica. Isso quer dizer que quando aprendemos uma língua já estamos imersos nos seus significados e, assim, na possibilidade de compreensão da realidade que essa língua possibilita. Para Wittgeinstain, no seu livro Investigações Filosóficas, a linguagem estabelece o limite do nosso mundo e assim também da nossa possibilidade de reflexão. Portanto, não se pensa e depois se arquiteta o trabalho com as ‘figuras de linguagem’.

 

  No livro “O dizer e o Dito”, Ducrot, ao analisar o processo de significação dos enunciados, percebeu que não haveria como fazer uma descrição semântica linguística finita para cada enunciado, pois estes não poderiam ser esgotados em somente uma interpretação. A esse respeito conclui:

 

  [...] a descrição semântica se constituirá de um conjunto extremamente heterogêneo, heteróclito mesmo. Com efeito, aí deverão ser abrigados, além dos conhecimentos habitualmente chamados de linguísticos, um certo número de leis de ordem psicológica, lógica ou sociológica, um inventário das figuras de estilo empregadas pela coletividade que fala a língua L, com suas condições de aplicação, em suma, informações referentes às diferentes utilizações da linguagem nessa mesma comunidade. (DUCROT, 1987, pág.15)

 

  Por isso esse autor separa o que é da ordem do linguístico daquilo que seria fator de retórica. Ao linguista cabe o componente linguístico desde que tratado na sua base argumentativa e não em frases isoladas.

 

  A argumentação ganha, então um respaldo inusitado, pois é trabalhada a partir da materialidade linguística em suas descrições semânticas. Segundo a perspectiva aqui adotada, as palavras se fazem no uso e não existem fora, ou antes, do uso, por isso não podem ser vistas separadas dos discursos, dos lugares sociais em que aparecem.

 

 

 

 

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